Quando foi a última vez que você permitiu que a curiosidade vencesse o medo e te lançasse em uma aventura inédita?
10 janeiro, 2025
Essa pergunta ecoou em minha mente durante minhas recentes mini férias, quando um convite inesperado me confrontou: remar mar adentro. A ideia, confesso, surgiu como um desafio incandescente, acendendo uma chama de pavor:
"Eu? Remando? Impossível! Eu nem sei nadar!".
O receio, um velho conhecido, ergueu suas muralhas, tentando me manter na segurança da praia.
Minha irmã, uma bússola de otimismo, dissipou as primeiras ondas de ansiedade, e eu, hesitante, aceitei o desafio. A praia de Juquehy seria o ponto de partida para a Ilha das Ilhas, uma jornada de cerca de 30 minutos (tanto para ir quanto para voltar) que se revelaria muito mais do que um simples passeio. Fomos um grupo de quinze pessoas, divididas em duas canoas. Curiosamente, a minha equipe, com duas crianças e uma adorável cachorrinha, que se chamava "canoa" se tornou um catalisador para o meu medo. A leveza da presença infantil e a energia da canoa acalmaram a tempestade em meu peito.
Antes de nos lançarmos às águas, os instrutores, mestres na arte de criar conexões, transformaram o ambiente em um espaço de confiança e alegria. A quebra-gelo, com seu toque de humor e camaradagem, nos preparou para a jornada. O saber prático da remada foi compartilhado, e os mais experientes foram posicionados estrategicamente na proa, como guias em alto mar.
O obstáculo maior, a quebra das ondas, testou nossa coragem e coordenação. A "marola", como chamavam, exigia concentração, calma e obediência aos comandos. "Remadas rápidas!", gritava o instrutor, um farol em meio ao balanço das águas. "RIPE!", e a sincronia se fazia presente, enquanto nossos remos alternavam de lado em um balé aquático. A beleza desse movimento conjunto, o esforço compartilhado para alcançar o horizonte, era uma lição viva sobre a importância da colaboração.
A jornada para a Ilha das Ilhas foi, sem dúvida, um desafio físico. Meus braços, ao final da jornada, clamavam por descanso. Contudo, a exaustão física era superada pela euforia da conquista. Em cada braçada, eu percebia a força da união, a necessidade de um líder que inspire e conduza, e a importância da sincronia para alcançar o objetivo. Uma metáfora, viva e pulsante, para a dinâmica de qualquer ambiente de trabalho, onde líderes e equipes, em harmonia, alcançam resultados extraordinários.
Essa experiência, no entanto, transcendeu o simples aprendizado em grupo. Foi uma jornada de autoconhecimento, uma imersão no meu medo. O mar, outrora um gigante ameaçador, agora se apresentava como um campo de possibilidades, um convite à superação. A sensação de ter rompido minhas próprias barreiras, de ter expandido meus limites, foi indescritível.
Aprendizados à Luz da Psicologia Histórico-Cultural e a Emoção do Medo:
Mediação Cultural: A experiência de remar, mediada pelos instrutores e pelo grupo, transformou meu medo em coragem. Segundo Vygotsky, a cultura e a interação social são fundamentais para o desenvolvimento humano. O ambiente socialmente construído e o conhecimento compartilhado foram cruciais para que eu me sentisse segura e confiante para enfrentar o desafio.
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): A presença da minha irmã, o apoio do grupo e a orientação dos instrutores me impulsionaram para além da minha zona de conforto, ou seja, a Zona de Desenvolvimento Proximal. A experiência de remar foi uma tarefa desafiadora que, com o auxílio de outros, me permitiu alcançar um novo nível de habilidade e autoconfiança.
A Emoção do Medo: O medo, na perspectiva histórico-cultural, não é uma emoção puramente biológica, mas uma construção social e histórica. Meu medo do mar, moldado por experiências passadas e crenças culturais, foi ressignificado através da experiência de remar. Ao ser confrontado em um ambiente seguro e de apoio, o medo se transformou em propulsor para o aprendizado e para a expansão dos meus limites.
A Importância da Colaboração: O trabalho em equipe, a sincronia na remada e a liderança dos instrutores, destacam a relevância da colaboração na superação de desafios e no alcance de objetivos. A interação social e a troca de experiências com os outros nos enriquecem e impulsionam nosso desenvolvimento.